segunda-feira, 23 de novembro de 2009

A batalha do Centenário

23h15m, horário de Montevidéu. Ninguém ousa deixar o Centenário. Os jogadores uruguaios fazem a volta olímpica diante dos gritos extasiados de mais de 60 mil fanáticos torcedores. Finalmente, a seleção uruguaia, no mesmo estádio onde fora campeã mundial pela primeira vez em 1930, classifica-se para o mundial de 2010. Aos gritos de “Hay que saltar, hay que saltar, el que no salta no va al mundial” o Centenário é tomado por uma estranha e merecida sensação de euforia.

Os jogadores confundem-se com torcedores, exibem a camisa celeste para as arquibancadas e tomam de assalto a goleira onde, minutos antes, “El Loco” Abreu, com um testaço indefensável, começara a desenhar a classificação do Uruguai. Os torcedores uruguaios estão fadados ao sofrimento. Eles próprios sabem que não se pode assistir os jogos da celeste sem sofrer, assim como não se pode sofrer com a celeste sem amá-la. E na noite de quarta-feira não foi diferente.

Diante de uma Costa Rica acuada, a seleção uruguaia oscilou entre a ansiedade e o nervosismo. A falta de criatividade evidente dos últimos jogos foi suprida por uma atuação magnífica da promessa do Nacional, o jovem Nicolás Lodeiro. Lugano, Eguren, Suárez, Forlán, Álvaro Pereira, cada qual à sua maneira ameaçaram o arco de Navas, enquanto este se esforçava para tornar-se o maior inimigo dos uruguaios naquela noite.

Aos poucos, o sofrimento constante durante toda eliminatória, a possibilidade concreta da eliminação, a derrota para a Austrália em 2006, todos os sentimentos juntos, ao mesmo tempo, brotavam das arquibancadas do Centenário. Tímidas bandeiras, olhares preocupados, algumas arrancadas pelo lado esquerdo do ataque costarriquenho. Tudo tendia ao sofrimento até que Tabárez, num lapso de sensibilidade e genialidade, meteu “El loco” na cancha.

O Centenário cresce, toma vida. “El loco” carrega nas costas o sonho de todos os uruguaios. E, em menos de cinco minutos, com um potente testaço, inaugura a classificação da celeste. Um coro uníssono e ensurdecedor se apodera do estádio; os jogadores estão extasiados, a torcida também, os jornalistas também, todos estão. Dos camarotes envidraçados aos taludes de 100 pesos o grito é o mesmo. Poucos minutos depois o gol da Costa Rica. Silêncio, confusão, pancadaria, jogo paralisado.

Não havia mais o que fazer. Empate sofrido, um retrato da campanha uruguaia na eliminatória: sofrimento do inicio ao fim. Mas, às 23h15m, horário de Montevidéu, o Uruguai já estava no Mundial. A batalha do Centenário acabara em festa, ou melhor, em procissão rumo à Avenida 18 de Julho. Milhares de fanáticos torcedores, espalhando alegria pelas calçadas de Montevidéu, com suas cervejas e suas bandeiras enroladas ao corpo. Em menos de uma hora, a Praça Cagancha estava tomada. 20 mil uruguaios regozijavam-se com a classificação. Merecidamente.

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